SINPAF denuncia desmonte e transferências compulsórias na UEP da Embrapa em Parnaíba
Por: Vânia Ferreira
Não é reestruturação, é o desmonte da Unidade de Execução de Pesquisa (UEP), em Parnaíba (PI), que está sendo colocado em ação pelo chefe-geral da Embrapa Meio-Norte, com a anuência do presidente da Embrapa.
Entre tantas deliberações voltadas à desmobilização da UEP, como transferência de equipamentos de pesquisa e fechamento de laboratórios, o chefe-geral da Meio-Norte também tomou a decisão unilateral de transferir compulsoriamente 55% do quadro de trabalhadores para a Embrapa Meio-Norte, localizada em Teresina, cerca de 340km de distância de Parnaíba.
De acordo com o presidente da Seção Sindical Parnaíba, Raimundo Nonato Júnior, atualmente, 26 empregados receberam o aviso de transferência a serem efetivadas nos meses de março e maio, causando pânico nos trabalhadores. Outros sete já foram transferidos no ano passado. “Essa medida está deixando vários empregados adoecidos. Estamos falando de pessoas com mais de 55 anos e impossibilitados de fazer a mudança, seja por problemas de saúde, financeiro ou familiar.”
“Somos seres humanos, e não números. Nós somos empregados de uma empresa, mas depois de 8h somos pais de família, temos nossas casas, nossos problemas, nossas dificuldades e em nenhum momento isso foi analisado. Ninguém da empresa perguntou como estamos emocionalmente e financeiramente para, de repente, e sem planejamento, levarmos toda a nossa vida para outra cidade”, contou o técnico eletricitário Odival Ferreira do Amaral, que trabalha na UEP Parnaíba há 33 anos.
Odilval relatou ainda que não é a primeira vez que ele é convocado a mudar de unidade. Mal conseguiu superar os traumas da última transferência, em que precisou de acompanhamento psicológico, já se vê “abalado” novamente.
“Já vivi esse trauma e é muito doloroso. Tive que deixar minha esposa e filha pequena, na época. Quando conseguia visitá-las em alguns finais de semana, a minha filha se escondia para não me ver indo embora. Falta empatia, sensibilidade por parte dos gestores. Dediquei mais de 30 anos da minha vida à Embrapa e agora sou tratado com tamanha desumanidade”, disse.
Para Francisco Davi Silva, que também está na lista de convocados, essa mudança é impossível e desnecessária. Ele é tutor da mãe, de 96 anos, uma senhora em estado de demência e muito debilitada, que depende completamente da ajuda de terceiros para todas as necessidades.
“Seria desumano tentar violar ou desestabilizar toda a logística da convivência familiar de uma idosa e, até mesmo, da sua forma de vida em todos os aspectos, o que poderia levá-la a óbito em razão de uma mudança drástica, severa e inconsequente”.
Segundo Francisco, outra situação agravante que essa transferência pode causar é a condição econômico-financeira insuficiente para manter vários ambientes familiares em diferentes cidades. “Sou empregado da Embrapa há 33 anos, dos quais 32 anos exercendo função de revisor de textos técnicos. Nos últimos 28 anos, esse trabalho vem sendo executado de forma remota em conjunto com a supervisora editorial, lotada na Embrapa em Teresina.
“Apesar da distância, o resultado do trabalho é eficiente, com alcance das metas pré-estabelecidas pela empresa, ou seja, o afastamento físico entre o revisor de textos e a supervisora editorial não inibe, de forma alguma, a dinâmica ou o fluxo do trabalho relativo ao meu Plano de Trabalho Individual. A prova irrefutável disso é o teletrabalho adotado pela Embrapa durante a pandemia da Covid-19, em que aderi formalmente à modalidade de trabalho remoto, conforme aditivo ao contrato de trabalho, e tenho desempenhado minha função atendendo à demanda desde março de 2020. Portanto, não existe justificativa para a minha transferência para a Embrapa em Teresina”, explicou o analista.
Assim como Odival e Francisco David, tantos outros foram convocados a abandonar famílias e histórias de vida construídas há mais de 30 anos na cidade de Parnaíba. Além de não existir um olhar de sensibilidade e empatia para os empregados, a Embrapa ignorou a lei e as Normas Regulamentadoras, quando incluiu na lista de convocados dois dirigentes sindicais e um membro da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa), que precisam exercer os seus mandatos na localidade onde foram eleitos.
DESMONTE – A unidade de Parnaíba tem um papel estratégico para o desenvolvimento da bovinocultura de leite, aquicultura, fruticultura, Irrigação, entre outros projetos. As transferências de pessoal e o fechamento dos laboratórios vão impactar, e muito, o desenvolvimento agropecuário e socioeconômico da região.
Nesta segunda-feira (8/2), pesquisadores da UEP Parnaíba protocolaram no Sistema eletrônico de Informações (SEI) um documento para que o Comitê Técnico Interno (CTI) da Embrapa Meio-Norte analise a situação dos projetos que estão em andamento e que serão prejudicados caso essas transferências ocorram.
Clique aqui e leia a íntegra do documento com a lista dos projetos que, possivelmente, serão descontinuados, como o Manejo e gestão ambiental da aquicultura, Viabilidade da pequena e média exploração do cajueiro, Estratégias para a sustentabilidade da produção de acerola orgânica irrigada, entre outros muito importantes para a região.
“Sem o suporte do pessoal de apoio especializado será inviabilizado a implantação dos projetos, não permitindo o atendimento das demandas do setor produtivo e o compromisso firmado entre a diretoria da Embrapa e a sociedade. Para atendimento necessário e eficiente das ações de pesquisa executadas na UEP de Parnaíba, para obtenção dos resultados já programados nos projetos atuais, é preciso a manutenção de uma equipe mínima de apoio para as análises laboratoriais e a manutenção dos equipamentos utilizados”, diz o documento.
Na cidade, associações e demais organizações de agricultores também estão em mobilização para frear esse desmonte que prejudicará o progresso local. Josenilton Lacerda, que é agricultor local, faz um apelo aos parlamentares e aos gestores da Embrapa para que “coloquem a mão na consciência”, pois esse desmonte da UEP de Parnaíba é totalmente devastador, ao considerar o momento que o país está vivendo, de retrocesso econômico”.
“É uma imprudência do ponto de vista da gestão pública e do desenvolvimento socioeconômico. Fechar uma unidade que está localizada em um núcleo de produção agropecuária que utiliza 100% do conhecimento e da tecnologia da Embrapa será um prejuízo muito grande para a agricultura familiar e para o progresso da região. Nós precisamos que a Embrapa em Parnaíba seja fortalecida, e esse compromisso foi assumido pela ministra da Agricultura, Tereza Cristina, e pelo próprio presidente da empresa, Celso Moretti, em visita à cidade. Manter essa unidade aqui tem um custo irrisório, diante da necessidade dos agricultores e da população”, enfatizou Lacerda.
MOBILIZAÇÃO – A Diretoria Nacional do SINPAF está intensificando as ações para defender a manutenção da UEP e a permanência das trabalhadoras e trabalhadores.
“Essa desmobilização da UEP segue a mesma linha de desmonte das empresas públicas em todo o país, onde o governo precariza e privatiza se desfazendo do patrimônio do povo brasileiro. “Parece que a Unidade de Parnaíba foi escolhida como uma espécie de balão de ensaio de experimento, para depois o desmonte atingir demais Unidades da Embrapa”, afirmou a presidenta interina do SINPAF, Alexandra Wickboldt Hellwig.
Na quarta-feira (3/2), a Diretoria Nacional enviou uma carta ao presidente da Embrapa, Celso Moretti, solicitando urgentemente uma agenda virtual, para o dia 5/2, com a presença do chefe-geral da Embrapa Meio-Norte, com a finalidade de discutir essa situação. Contudo, até o momento desta publicação, a Embrapa ainda não respondeu ao SINPAF.
A Seção Sindical Parnaíba impetrou algumas ações judiciais para tentar, por meio de liminar, barrar essas transferências. A Diretoria Nacional também vai fazer denúncias da situação da UEP no Ministério Público Federal e no Ministério Público do Trabalho.
A diretoria de Relações Institucionais e a Assessoria Parlamentar do SINPAF já estão mobilizando parlamentares contra os procedimentos adotados e a falta de humanidade dos gestores da Embrapa.
SINPAF, ao lado dos trabalhadores/as, contra o desmonte da UEP da Embrapa em Parnaíba!