
SINPAF completa 34 anos e debate reconstrução do Brasil, das empresas públicas e o combate à fome no 1º dia do Congresso
Por: Camila Bordinha
O 13º Congresso do SINPAF começou, nesta sexta-feira (2), em Brasília-DF, data na qual completa 34 anos de existência. O evento contou com a participação de cerca de 220 pessoas, das quais 176 são delegadas e delegados natos e eleitos nas 52 Seções Sindicais de todas as regiões brasileiras.
Além do presidente do SINPAF, Marcus Vinicius Sidoruk Vidal, e da presidenta da Auditoria Fiscal Nacional (AFN) do sindicato, Joana D’arc, a mesa de abertura contou com a participação online da presidenta da Embrapa, Silvia Massurhá; do diretor de Revitalização e Sustentabilidade Socioambiental da Codevasf, José Vivaldo Mendonça Filho; da deputada federal Érika Kokay; e do presidente da CUT-DF, Rodrigo Rodrigues.
Para o presidente do SINPAF é necessário reverter retrocessos que foram construídos ao longo dos últimos quatro anos nas empresas públicas da base do sindicato e na classe trabalhadora. “Nosso papel é avançar nas questões trabalhistas e nos direitos, por uma sociedade mais justa e igualitária, com respeito e dignidade para todas e todos, menos excludente, menos machista, misógina, racista etc,” afirmou Marcus Vinicius.
Já a presidenta da Auditoria Fiscal Nacional (AFN) do SINPAF, Joana D’arc, explicou que o papel da auditoria contribui para a organização financeira e administrativa do sindicato. “Porque estamos aqui e não nos furtamos do trabalho e da luta por nossos colegas nas bases e por nosso sindicato forte”, completou Joana D’arc.
Conforme Silvia Massurhá, a nova diretoria da Embrapa pretende recompor a equipe e o orçamento da instituição e reforçou que conta com o SINPAF para essa reconstrução. “Precisamos fazer uma Embrapa cada vez mais representativa no Brasil e no mundo, um projeto de empresa inclusiva e sustentável. Contamos com vocês nessa jornada e contem conosco”, finalizou a presidenta da Embrapa.
O diretor da Codevasf, disse que, para uma construção real da empresa, é necessário sentar e discutir com o sindicato os rumos do que a instituição precisa neste momento. “Temos que colocar os pés onde o povo está, reafirmar o compromisso com os empregados. O processo de ciclo de diretores é passageiro, mas os trabalhadores continuam. É o momento de pressão, união e reconstrução,” afirmou José Vivaldo.
A deputada Érika Kokay recordou a história de luta do SINPAF contra o assédio moral na Embrapa, denunciando o escoamento de recursos públicos na Codevasf, mobilizando-se e contribuindo para a derrubada da resolução 32 da CGPAR, que buscava acabar com os planos de saúde das estatais, entre outros. “Sempre esteve na denúncia, buscando construir um projeto de Brasil sustentável, solidário, que ninguém tenha que passar fome, pois trabalham pela missão de combater a fome, que não pode ser naturalizada. É uma entidade sindical que nunca fugiu à luta, construindo um Brasil que mostre a força desse povo brasileiro,” reforçou Érika Kokay.
Finalizando a mesa, o presidente da CUT-DF, Rodrigo Rodrigues, reforçou a felicidade de fazer um congresso presencial, com o reencontro das pessoas, e agora com a retomada da esperança e da confiança do país. O sindicalista afirmou que o SINPAF tem muito a contribuir e oferecer para a construção da classe trabalhadora e para o que a central almeja como justiça social para o país. “Vamos fortalecer os nossos sindicatos, e também nossa linha política de defesa da democracia e da soberania nacional, na defesa das empresas públicas – as responsáveis pelas riquezas do nosso país – pela justiça social e soberania nacional,” concluiu.
PROGRAMAÇÃO
O Congresso Nacional do SINPAF continuou sua programação com uma apresentação cultural que animou e contribuiu para a reflexão do tema da fome, com a intervenção musical e poética de Adriana Fernandes (do MST e Ponto de Cultura Comuna Panteras Negras) e Fábio Carvalho (Frente de Música do MST).
Em seguida ocorreu a aprovação da pauta e do regimento, assim como a composição da mesa de condução do evento, para a qual foi eleito presidente Waltterlenne Englen Freitas de Lima, da Seção Sindical Goiânia; Franciana Volpato como secretária; Silvia Mara Belloni e Celso Torres da Paz como relatora e relator respectivamente.
RECONSTRUÇÃO
Na mesa de análise de conjuntura política, econômica e sindical, o presidente da CUT Nacional, Sérgio Nobre, disse que o Brasil recupera o papel de protagonismo no planeta. E trouxe para o congresso as pautas pelas quais são necessárias para a reconstrução do país. De acordo com ele, é necessário recuperar estrutura do movimento sindical. “Em outubro, será o grande momento para discutir novo modelo sindical no Congresso Nacional.”
Também precisamos lutar pela queda dos juros, pois não se justifica que o Banco Central mantenha a Selic no patamar que está. Por isso, dia 16 de junho, a CUT debater com a categoria sobre essa luta para pressionar que os juros sejam reduzidos, já que dias 20 e 21 o Comitê de Política Monetária (Copom) deve anunciar a nova taxa de juros.
Ceres Hadich, diretora nacional do Movimento Sem Terra (MST), fez um histórico das investidas da direita e do fascismo no Brasil. Segundo ela, para combatê-los, é necessário, primeiro, defender o governo para continuar impondo derrotas ao fascismo; segundo, fortalecer as bandeiras e a autonomia dos movimentos sociais e sindicais frente ao governo; e terceiro, organizar o povo trabalhador, para que possa seguir lutando e conquistando diretos e melhoria. “Temos o desafio de enfrentamento da fome, com cuidado ao meio ambiente, repensando a forma de viver e de existir, para termos a possibilidade de construir um Brasil mais justo e solidário, com compromisso incontestável com a democracia, assim como retomar a capacidade de reindustrialização do país,” afirmou Ceres.
O diretor nacional do Dieese, José Silvestre, explicou sobre a situação econômica do Brasil, assim como apresentou o novo arcabouço fiscal aprovado no Congresso Nacional. Ele também afirmou que a inflação e a reforma tributária são o centro do debate entre a política fiscal e a monetária. “A inflação está baixa, o que não justifica a taxa de juros aplicada pelo Banco Central,” disse.
Silvestre apontou alguns desafios do governo: acomodar múltiplos interesses na frente ampla; a relação com congresso mais reacionário dos últimos 40 anos; a formação de uma base parlamentar (como saciar a sede do centrão por emendas e cargos?); a atitude inédita do congresso mudar a estrutura e querer promover desidratação dos ministérios do Meio Ambiente e da Previdência; a execução de política ambiental; como compatibilizar política fiscal e política monetária com BC independente?; a estratégia de comunicação em tempos de redes (anti)sociais, e a perda do poder do executivo versus a ampliação do poder do legislativo (presidente da câmara).
COMBATE À FOME
O tema central do 13º Congresso do SINPAF foi discutido na mesa “Empresas Públicas de Pesquisa e Desenvolvimento e o Combate à fome no Brasil.”
O representante do Instituto Fome Zero, Walter Belik, esclareceu os conceitos de “Darwinismo Social” e “Naturalização” da fome, que são formas que as elites sociais encontram para tentar justificar que uma parcela da população sofra com a fome. De acordo com ele, “ainda há a ideia de que falta alimento no Brasil e no mundo e que, por isso, temos que expandir e desmatar a Amazônia, ocupar terras para produzir mais.” Por isso, Belik propôs discutir uma agenda de pesquisa que combata esses dois males, que são a fome e o darwinismo social, pois o mundo evoluiu.
“Temos que romper com esse negacionismo, com medidas diretas, dando acesso econômico e físico. Não precisamos produzir mais alimentos, mas dar o acesso às pessoas a esse alimento. Não é a produção em si, mas o sistema de produção que precisa ser revisto,” concluiu o representante do Instituto Fome Zero.
Já a diretora de Diálogos Sociais e Articuladora de Políticas Públicas da Presidência da República, Islândia Bezerra, explicou os níveis de insegurança alimentar pela qual passa a população. De acordo com ela, existe um apartheid alimentar, no qual a pessoas mais pobres são levadas a consumirem comida sem qualidade nutricional, como é o caso dos ultraprocessados.
Ela provocou os delegados e delegadas da categoria de pesquisa e desenvolvimento agropecuário: “não sou contra a inovação tecnológica, mas precisamos pensar a quem, efetivamente, a minha pesquisa está servindo?” “É preciso mais do que enfrentamento, temos que erradicar a fome”, enfatizou Islândia Bezerra.
PAUTAS
O primeiro dia do Congresso Nacional do SINPAF contou também com a mesa de discussão sobre saúde do trabalhador, com a participação de Roberto Xavier, (Diesat), Rita Ramos Damasceno (Casec), Carlos Honorato (Casembrapa) e Pedro Melo (diretor de Saúde do Trabalhador do SINPAF). Em breve a palestra será divulgada na íntegra na TV SINPAF: www.youtube.com/tvsinpaf
Veja as fotos do 13º Congresso: https://abrir.link/uV5ZH