Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Pesquisa e Desenvolvimento Agropecuário
imagem com fundo branco e cinza claro. Do lado direito temos o símbolo da fita branca e no centro dele a logo do Sinpaf em branco. Do lado esquerdo um mulher branca de cabelos longos e castanhos.

Janeiro Branco: Tudo que você precisa saber sobre saúde mental

19 de janeiro de 2024
Por: Gisliene Hesse

Na última década, o assunto saúde mental de indivíduos em todo o mundo têm sido alvo de discussões científicas e rendido pesquisas com resultados que assustam a sociedade. Os debates sobre o tema na sociedade ainda são carregados de tabus, mas o cenário estatístico demonstra, cada vez mais, que é necessário discutir o assunto, bem como informar a população para conscientizá-la da importância da prevenção e diagnóstico das doenças mentais.

Indo ao encontro dessa demanda, em 2014, foi criada a campanha Janeiro Branco, no Brasil. A iniciativa visa alertar para os cuidados com a saúde mental e emocional da população, a partir da prevenção das doenças decorrentes do estresse, como ansiedade, depressão e pânico, entre outras. Os organizadores trabalham na construção de uma “cultura da Saúde Mental e do bem-estar emocional da humanidade. Veja mais sobre a campanha aqui

Ciente do seu papel junto aos problemas sociais e aos reflexos dele junto aos trabalhadores e trabalhadoras, a Diretoria Nacional do SINPAF se une à campanha para levantar a bandeira em prol da prevenção, do diagnóstico e dos cuidados com a saúde mental.

“Nas Plenárias Regionais no ano passado vários Companheiros em suas falas alertaram sobre o adoecimento mental de vários colegas de suas bases, casos de ansiedade, estresse, depressão, o que ocasionou vários afastamentos por doença do trabalho e até suicídios”, destaca Pedro Melo, diretor de Saúde do Trabalhador e Meio Ambiente do SINPAF.

Veja o vídeo da Campanha aqui

Saúde mental no trabalho

Mesa com três trabalhadores. Da esquerda para a direita. Uma mulher negra com a mão direita na cabeça. Ela tem os cabelos curtos e crespos. No meio uma mulher loira de cabelos longos e presos também com a mão direita na cabeça. O último é um homem de meia idade branco de cabelos grisalhos e lisos com a mão nos dois olhos. Na frente deles, em cima da mesa, um computador, um copo de água e um óculos

Uma pesquisa inédita da Conexa (ecossistema digital de saúde, líder na América Latina), realizada em agosto do ano passado, com visitantes do Congresso Nacional de Gestão de Pessoas (Conarh), em São Paulo, constatou que a saúde mental do brasileiro no ambiente do trabalho vai muito mal.  

Os gestores de recursos humanos de 767 empresas do Brasil participaram da pesquisa. O estudo constatou que a saúde mental do brasileiro no ambiente do trabalho vai muito mal. Das 1.589 pessoas que responderam perguntas elaboradas pela startup, 87% afirmaram ter ocorrido afastamento em sua corporação por causa de doenças que afetaram a mente do colaborador somente neste ano. 

A ansiedade (com 51%) é o transtorno, de acordo com os pesquisados, que mais afastou as pessoas do trabalho, seguido por depressão (17%), estresse (16%) e síndrome de burnout (14%). Confira mais informações sobre o estudo aqui

“A situação é bem grave no nosso país e precisamos nos atentar para esse problema, por isso a Diretoria de Saúde do Trabalhador junto a Direção Nacional do Sinpaf, apoia a Campanha “Janeiro Branco”. Pretendemos discutir com as empresas da base do nosso sindicato o investimento em programas de saúde mental, como estratégia para que haja um ambiente de trabalho colaborativo, saudável, com maior produtividade e retorno social para a população atendidas por nossas empresas”, completou o diretor de saúde do SINPAF.

Transtornos Mentais Relacionados ao Trabalho

Em 2023, dados apresentados pela Comissão Intersetorial de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (Cistt) do Conselho Nacional de Saúde (CNS), na 342º Reunião Ordinária do CNS, confirmaram que os transtornos mentais relacionados ao trabalho (TMRT) são a terceira maior causa de afastamento do trabalho.

Em matéria divulgada no site do CNS indica que a “Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2019, apontou que 10,2% das pessoas com 18 anos ou mais receberam o diagnóstico de depressão”.

A Comissão também apresentou na reunião do CNS que os dados oriundos do sistema de informação de óbitos deram conta do crescimento do suicídio, bem como de ocorrências exponencial de adoecimento no trabalho. “Neste mesmo ano foram notificados 13 mil suicídios no país, sendo quase 12 mil casos em população de 14 a 65 anos. Destes, 10 mil casos ocorreram em pessoas em atividade de trabalho. 77% dos suicídios ocorreram entre homens”, apontam as análises.

Categorias Laborais Afetadas

As estatísticas consideram que as categorias de atividade, agricultores e profissionais que atuam nas áreas de pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura são as mais afetadas, sendo 89,5% dos casos de suicídio cometidos por pessoas do sexo masculino. Policiais, bombeiros e agentes carcerários seguem no ranking, seguidos pelos trabalhadores da enfermagem, da construção civil e de transportes.

Já para Thaís Oliveira, da UFPB, os dados não traduzem a realidade da situação, uma vez que a subnotificação dos casos, ocasionada pelo medo e pela falta de acolhimento que o trabalhador enfrenta, é grande. “Há medo e receio da culpabilização pelo sofrimento em termos individuais, e isso historicamente gera a invisibilidade da situação”, pondera. Vale conferir o texto completo aqui

9 coisas que você precisa saber sobre saúde mental

1 . Por quer Janeiro Branco

Janeiro, o primeiro mês do ano, inspira as pessoas a fazerem reflexões acerca das suas vidas, das suas relações, dos sentidos que possuem, dos passados que viveram e dos objetivos que desejam alcançar no ano que se inicia. Janeiro é uma espécie de portal entre ciclos que se fecham e ciclos que se abrem nas vidas de todos nós.

A cor branca foi escolhida por, simbolicamente, representar “folhas ou telas em branco” sobre as quais podemos projetar, escrever ou desenhar expectativas, desejos, histórias ou mudanças com as quais sonhamos e as quais desejamos concretizar. Veja o site oficial da campanha aqui

2 – Atenção das pessoas para a questão da saúde mental


“Uma pesquisa recente mostrou que, em relação à saúde, a saúde mental passou a ser a principal preocupação dos brasileiros, superando até mesmo uma das maiores preocupações humanas, que é o câncer. Dores, medos e sofrimentos psicossociais nos levaram a isso.

A pandemia agravou a situação ao ponto de a OMS afirmar que, em paralelo à Covid, vivemos uma pandemia de transtornos relacionados à saúde mental.

Mas, apesar dessas circunstâncias, os multidimensionais universos da saúde mental ainda são cercados de desconhecimentos, preconceitos e tabus. Conforme o Janeiro Branco convoca o mundo a refletir, urge a criação de uma cultura da saúde mental em todas as relações humanas, sob pena de vivenciarmos progressos materiais em concomitância à injustificável permanência de violências psicológicas em meio à humanidade, como a psicofobia, por exemplo.

Psicoeducação, educação socioemocional e a devida circulação de conhecimento sobre saúde mental podem mudar o mundo e tornar melhor as existências de todas as formas de vida. Um desses conhecimentos diz respeito ao entendimento de que saúde mental não significa apenas a ausência de transtornos mentais. Significa também autoconhecimento, autonomia, sentimentos de pertencimento, paz de espírito, propósitos e sentidos saudáveis de vida, equilíbrio perante às diferentes circunstâncias da vida, responsabilidade social, compromisso com a justiça social, respeito à diversidade humana, aos direitos dos outros e outras conquistas civilizatórias da humanidade”.

Depoimento de Leonardo Abrahão, psicólogo e criador da campanha Janeiro Branco, divulgado em entrevista na Folha de São Paulo

Confira entrevista completa com Abrahão na Folha de São Paulo

Leonardo Abrahão, psicólogo e criador da campanha Janeiro Branco – Divulgação

3 – O que é saúde mental

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a Saúde Mental pode ser considerada, um estado de bem-estar vivido pelo indivíduo, que possibilita o desenvolvimento de suas habilidades pessoais para responder aos desafios da vida e contribuir com a comunidade. O bem-estar de uma pessoa está intrinsecamente ligado a uma série de condições fundamentais, que vão muito além do aspecto exclusivamente psicológico. Além dos aspectos individuais, a saúde mental é também socialmente determinada. Por isso, deve-se considerar que a saúde mental resulta da interação de fatores biológicos, psicológicos e sociais. Pode-se afirmar que a saúde mental tem características biopsicossociais. 

4 – Doenças Mentais mais comuns no Brasil       

  • Transtornos de Ansiedade – Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), apontam que cerca de 9,3% da população brasileira sofre de ansiedade. Saiba mais sobre o assunto
  • Síndrome do Pânico ( Segundo dados da OMS, mais de 280 milhões de pessoas no mundo sofrem desse transtorno, que chega a atingir de 2 a 4% da população brasileira)
  • Fobias – Fobia social (Segundo dados divulgados no Congresso Brasileiro de Psiquiatria, cerca de 13% da população brasileira sofre desse tipo de ansiedade)
  • Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG).
  • Depressão – Segundo a OMS, cerca de 5,8% da população brasileira vivencia a depressão. Além disso, 61% declaram sentir alguns sintomas depressivos, segundo estudo publicado no The Lancet Regional.
  • Síndrome de Burnout –  Saiba mais sobre o assunto
  • Transtorno bipolar
  • Transtorno de personalidade antissocial
  • Esquizofrenia
  • Transtornos relacionados ao uso de substâncias psicoativas.

5 – Dados sobre a depressão e ansiedade

Especialistas da USP apontam que o Brasil está entre os países que mais apresentam pessoas ansiosas (63%) e depressivas (59%). A Irlanda ocupa a segunda colocação com 61% da população apresentando ansiedade e 57% depressão.

Esse quadro se agravou ainda mais entre 2020 e 2021 devido à pandemia de coronavírus. Em muitos períodos o afastamento social imposto por quarentena e lockdown privou a população do convívio social e do trabalho.

O estudo da USP foi realizado em 11 países. Confinadas em casa, as pessoas que ficaram desempregadas foram as mais afetadas, apresentando sintomas de depressão e de ansiedade.

No mundo a depressão afeta mais de 300 milhões de pessoas de todas as idades. Juntas, depressão e ansiedade custam US$ 1 trilhão para a economia mundial, de acordo com levantamento da OMS.

Depressão é a causa número um de incapacidade, podendo levar ao suicídio. Todos os anos, mais de 800 mil pessoas com idades entre 15 e 29 anos, se matam. A doença afeta mais mulheres do que homens e pode gerar sérios problemas de saúde física.

Pessoas depressivas têm problemas no trabalho, em casa ou na escola. Tratamentos com multiprofissionais ou atividades físicas podem ajudar na recuperação.

Fonte: https://www.conexasaude.com.br/blog/saude-mental-no-brasil/

6 – Dicas para cuidar da saúde mental

O Hospital Albert Einstein apontou 7 dicas de como cuidar da saúde mental. Veja quais são:

1. Adote uma alimentação saudável

2. Faça uma terapia com profissional

3. Invista na qualidade do seu sono

4. Pratique exercícios físicos

5. Saiba escolher com quem se relaciona

6. Pratique amor próprio

7 – Tenha um tempo para meditar

Veja a explicação de cada uma delas aqui

7 – Benefícios Previdenciários

Esses transtornos decorrentes da saúde mental acabam afetando os indivíduos, que ficam impossibilitados (temporária ou permanentemente) de exercer suas funções laborais. E é nesse ponto que entram os benefícios previdenciários pagos pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). A concessão desses benefícios, no entanto, está sujeita a critérios específicos. 

Para os benefícios por incapacidade temporária e permanente é necessário ter qualidade de segurado e ter carência mínima de 12 meses de contribuição previdenciária. No auxílio-doença, é fundamental comprovar a incapacidade temporária para o trabalho, e na aposentadoria por invalidez, a incapacidade deve ser permanente.

  • Benefício por incapacidade temporária (antigo auxílio-doença): é concedido às pessoas que estão temporariamente incapacitadas para o trabalho em razão de uma doença mental.
  • benefício por incapacidade permanente (antiga aposentadoria por invalidez): é concedido às pessoas que estão permanentemente incapacitadas para o trabalho por causa de uma doença mental.
  • Benefício de Prestação Continuada (BPC): destinado às pessoas com deficiência de qualquer idade e idosos com mais de 65 anos de idade que não tenham meios de se sustentar e se encontrem em estado de vulnerabilidade social. 

Atenção

O BPC pode ser concedido mesmo sem que o beneficiário trabalhado ou realizado contribuições ao INSS, por isso, existe a confusão popular de “quem nunca trabalhou tem direito a aposentadoria por invalidez”. No entanto, para ter direito é necessário atender aos requisitos estabelecidos em lei, como comprovar a idade mínima e a situação de vulnerabilidade socioeconômica.

Em todos os casos é necessário apresentar laudo e exames médicos que comprovem a existência da doença mental e a incapacidade (temporária ou permanente) para o trabalho com a respectiva Classificação Internacional de Doenças (CID). 

Fonte: INSS – Veja mais aqui

8 – Lei que institui Janeiro Branco para a promoção da Saúde mental

O governo sancionou em abril de 2023 a Lei nº 14.556 que institui a campanha Janeiro Branco, dedicada à promoção da saúde mental. De acordo com a justificativa da proposição legislativa, existe atualmente uma grande quantidade de doenças conectadas à saúde mental da população, inclusive em crianças e adolescentes. A ansiedade, por exemplo, atinge cerca de 18,5 milhões de brasileiros, e é responsável por mais de um terço do número total de incapacidades nas Américas, conforme relatório do Senado Federal elaborado para subsidiar o Projeto de Lei.

9 – Onde buscar ajuda

 RAPS – A indicação é que as pessoas que precisem de ajuda especializada busquem a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), que desde 2011 organiza os atendimentos dessa área no Sistema Único de Saúde (SUS).

CVV – Outra alternativa é o Centro de Valorização da Vida (CVV), associação sem fins lucrativos que oferece apoio emocional e prevenção ao suicídio. 

Mapa Saúde Mental – Neste site você vai encontrar serviços públicos de saúde mental disponíveis em todo território nacional, além de serviços de acolhimento e atendimento gratuitos ou voluntários realizados por ONGs, instituições filantrópicas, clínicas escola, entre outros.

Família e amigos – Familiares e amigos também precisam estar atentos a pessoas com sofrimento mental. Alterações de humor, de sono, de apetite são indicadores importantes. O cuidado precisa ser ofertado antes do agravamento da situação. Os pedidos de ajuda devem ser respeitados e levados em consideração.

Veja também

Câncer de Mama: SINPAF encerra outubro rosa com vídeo

Leia mais