
SINPAF repudia fala misógina do senador Plínio Valério contra a ministra Marina Silva
Por: Camila Bordinha
Nesta semana, o Brasil foi mais uma vez palco de uma cena misógina, na qual o senador Plínio Valério (PSDB-AM) expressou a vontade de enforcar a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, após uma audiência na CPI das ONGs, na sexta-feira passada, 14 de março. Para o SINPAF, este episódio não deve ser tratado apenas como machismo ou uma infeliz “brincadeira”, como tentou justificar o próprio autor da fala.
Como movimentos sindicais e sociais, é nosso dever exigir que práticas como essa, muitas vezes disfarçadas de “liberdade de expressão”, sejam coibidas e reprimidas dentro do Congresso Nacional. Senadores e deputados, assim como qualquer servidor público, devem ser exemplos para a sociedade. A fala do senador não é uma questão de liberdade de expressão, tampouco deve ser naturalizada. Os termos usados ultrapassaram os limites do desrespeito e configuram, sim, uma ameaça. Como podemos viver em uma sociedade onde ameaças são tratadas como brincadeiras, como o próprio senador tentou alegar depois?
Após ser repreendido, o autor não apenas confirmou suas palavras, mas ainda reforçou sua misoginia e machismo ao classificar a ministra como “frágil”, perpetuando o preconceito de que o simples fato de ser mulher a torna vulnerável. O senador parece ignorar, ou preferir ignorar, a história dessa mulher negra, que saiu da floresta para ajudar a escrever a história do Brasil.
Como alguém pode considerar “frágil” uma mulher que foi líder sindical ao lado de Chico Mendes, amigo que perdeu a vida na luta pelos seringueiros da Amazônia? Como fragilizar alguém que, após nascer no seringal, viver em palafitas e enfrentar hepatite, malária, contaminação por mercúrio e leishmaniose, conseguiu conquistar o terceiro lugar no primeiro turno das eleições presidenciais de 2010, mesmo tendo sido alfabetizada tardiamente aos 16 anos?
O senador ainda tentou justificar suas atitudes dizendo que tem esposa, filhas e parentes mulheres. No entanto, esse argumento não absolve nenhum homem do machismo, muito menos da misoginia, que é o ódio destilado contra as mulheres para desvalorizá-las. Para um homem machista, não deve ser fácil tentar confrontar a vasta inteligência e o conhecimento de uma mulher como Marina Silva. O que lhe resta fazer, então? “Brincadeirinhas”, que não têm nada de ingênuas, mas são, na realidade, ameaças veladas.
Vivemos tempos sombrios nos quais as pessoas se sentem cada vez mais à vontade para proferir barbaridades, e, dependendo de onde suas palavras chegam, elas podem reverberar em atos de violência, como os ocorridos em 8 de janeiro. De frase em frase, de brincadeira em brincadeira, de ameaça em ameaça, chegamos a um ponto em que muitos se sentem protegidos para agir como quiserem, certos da impunidade.
A ministra Marina Silva tem toda razão quando afirmou, no programa Bom Dia, da EBC: “Com a vida dos outros não se brinca. Quem brinca com a vida dos outros ou faz ameaça aos outros de brincadeira e rindo, só os psicopatas são capazes de fazer isso.”
Marina é uma mulher da floresta, uma mulher de luta, com uma história de força que vai muito além de seu estereótipo franzino. Sua postura firme em defesa das florestas e das comunidades indígenas confronta os interesses de muitos. E é por isso que sua voz, ressoando nos corredores do Congresso Nacional e por todo o Brasil, incomoda, ainda mais por vir de uma mulher como ela.
O SINPAF, portanto, repudia a postura do senador Plínio Valério e reforça sua solidariedade à ministra Marina Silva e a todas as mulheres que, diariamente, enfrentam o machismo e a misoginia em seus ambientes de trabalho e em suas vidas pessoais. Além disso, reafirmamos nosso apoio à defesa do meio ambiente e das florestas.