Especial do SINPAF marca o Dia do Orgulho LGBTQIAPN+
Por: Gisliene Hesse
No dia em que é celebrado o orgulho LGBTQIAPN+ (veja o que significa a sigla no próximo subtítulo), 28/6, o SINPAF destaca que apesar da melhora de conscientização em relação a essa população, os dados sobre violência são alarmantes. No último dia 18/06, o Atlas da Violência divulgado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública revelou um aumento de quase 40% de violência contra essa camada da população.
E quando se trata de mortes contra LGBTQIAPN+, as estatísticas também são estarrecedoras. Ao longo de 2023, a cada 34 horas uma pessoa LGBTQIAPN+ foi vítima de morte violenta no Brasil. O país teve 257 mortes violentas de pessoas LGBTQIAPN+, segundo o Grupo Gay da Bahia, responsável pelo levantamento. O número mantém o país no posto do mais homotransfóbico em todo o mundo.
Consciente do seu papel junto aos problemas sociais e aos reflexos deles, na sociedade e, consequentemente, nos locais de trabalho, a Diretoria Nacional do SINPAF se une à luta da população LGBTQIAPN+ pelos seus direitos, sejam eles civis (à vida, à não discriminação e à liberdade) ou direitos sociais (à saúde e à segurança pública).
“Não existe defesa da classe trabalhadora sem pensar em diversidade. Precisamos pensar na inclusão de mulheres, de negros e negras e de pessoas LGBTQIAPN+ em todos os espaços, inclusive em cargos de decisão em todas as esferas. Sem representatividade é muito difícil considerar essas camadas da sociedade quando se pensa em garantia de direitos. O sindicato é responsável pela defesa de todos e todas os/as trabalhadoras, sem exclusão. Para além disso, o sindicato tem o papel social de atuar nas questões para construir uma sociedade mais justa e equânime”, afirma Marcus Vinicius Sidoruk vidal, presidente do SINPAF.
Segundo a diretora de políticas sociais e cidadania do SINPAF, Franciana Belaver, o SINPAF está atento às diferenças e tem colocado temas da comunidade LGBTQIAPN+ nos seus debates.
“Acredito que precisamos disponibilizar informações, mas sobretudo trazer o debate sobre diversidade e inclusão para dentro das instituições. Neste ano, por exemplo, todas as nossas Plenárias Regionais e a Plenária Nacional priorizou os temas: Diversidade e Inclusão. Temos que levar em consideração que a nossa sociedade é muito conservadora, machista, sexista e desigual. E nos últimos anos, o conservadorismo aflorou ainda mais. Trouxemos palestrantes incríveis para as Plenárias, que apresentaram aos delegados e convidados suas histórias de vida, suas lutas, suas dores e conquistas. Estes palestrantes nos mostraram várias outras formas de olhar o próximo, de ajudar, de erguer com orgulho nossas bandeiras e lutar para defende-las. Temos certeza de que esses debates irão ser replicados na base”, afirmou Franciana Volpato.
Especial sobre LGBTQIAPN+ fala das dificuldades dessa população
O QUE SIGNIFICA A SIGLA LGBTQIAPN+
Muitas pessoas ainda têm dificuldade em saber o significado de cada letra da sigla LGBTQIAPN+. Primeiramente é importante ressaltar, que a sigla está em constante atualização — assim como a diversidade de gêneros, identidades e orientações sexuais que ela representa.
Confira abaixo o que significa as letras da sigla:
- L — Lésbicas: mulheres que sentem atração sexual e/ou afetiva por outras mulheres
- G —Gays: homens que sentem atração sexual e/ou afetiva por outros homens
- B — Bissexuais: pessoas que sentem atração sexual e/ou afetiva por mais de um gênero
- T — Transgêneros: pessoas que não se identificam com o seu gênero biológico e assumem uma identidade diferente do seu nascimento. Nesse grupo estão ainda as travestis, que não se reconhecem no gênero masculino, mas em uma expressão de gênero feminina
- Q — Queer: identidades e expressões de gênero e sexualidade que não se encaixam nas normas da heteronormatividade (de heterossexualidade ou binarismo de gênero), como drag queens
- I — Intersexo: pessoas nascidas com características biológicas (genitais, hormônios, etc.) que não se enquadram nas definições típicas de sexo masculino ou feminino
- A — Assexuais, agênero ou arromânticos: aqueles que não sentem atração sexual por outras pessoas
- P — Pansexuais e polissexuais: indivíduos que sentem atração sexual e/ou afetiva por outras pessoas, independentemente do gênero ou identidade de gênero
- N — Não-binários: pessoas que não se identificam com nenhum gênero, ou que se identificam com vários gêneros
- + — O “+” representa outras identidades e orientações sexuais não mencionadas na sigla e gêneros fluidos, reconhecendo a vasta diversidade que existe
Por que o mês do Orgulho foi criado?
O Mês do Orgulho LGBT+ é celebrado em junho no Brasil e em diversos países do mundo. O mês foi escolhido por causa das manifestações que ocorreram após uma ação truculenta da polícia no ano de 1969 em um bar LGBT, em Nova Iorque. Na época, a relação entre pessoas do mesmo sexo era proibida.
O movimento ficou conhecido como a Rebelião de Stonewall, nome do bar. Os frequentadores revoltaram-se com a ação policial e fizeram diversas passeatas, transformando o momento em um marco histórico.
Um ano depois, a comunidade LGBT+ mobilizou a primeira marcha do orgulho gay em algumas cidades dos Estados Unidos e junho passou a ser conhecido como o Mês do Orgulho.
A importância do mês do Orgulho LGBTQIAPN+
A celebração é utilizada para instigar ações afirmativas e de políticas públicas voltadas para o público LGBT+, além de reunir pessoas pelo mundo lutando contra à homofobia.
No Brasil, a primeira Parada do Orgulho Gay ocorreu em 1997 em São Paulo e reuniu cerca de 2 mil pessoas. Em 2009, o evento teve o seu nome alterado para Parada do Orgulho LGBT a fim de contemplar todas as siglas da comunidade.
Mais de 3 milhões de pessoas passaram pela 28ª edição da Parada do Orgulho LGBT+, em São Paulo, de acordo com balanço divulgado pela assessoria de imprensa da Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo (APOLGBT-SP), organizadora do evento. O balanço oficial da Polícia Militar de São Paulo ainda não foi divulgado.
A Parada do Orgulho LGBT+ aconteceu em clima de Copa do Mundo. A comemoração trouxe muitas pessoas de verde e amarelo, um pedido da organização do evento. Entre as atrações que arrastaram a multidão, Pabllo Vittar, Gloria Groove e Sandra Sá cantaram em cima de trios elétricos. (Fonte: Portal Terra)
Estatísticas da população LGBTQIAPN+
No Brasil, 2,9 milhões de pessoas de 18 anos ou mais se declaram lésbicas, gays ou bissexuais. Os dados são da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS): Orientação sexual autoidentificada da população adulta, divulgada hoje (25) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esta é a primeira vez que esse dado é coletado entre a população brasileira e, na avaliação do instituto, ainda pode estar subnotificado.
Os dados, coletados em 2019, mostram que 94,8% da população adulta, o que equivale a 150,8 milhões de pessoas, identificam-se como heterossexuais, ou seja, têm atração sexual ou afetiva por pessoas do sexo oposto; 1,2%, ou 1,8 milhão, declaram-se homossexual, tem atração por pessoas do mesmo sexo ou gênero; e, 0,7%, ou 1,1 milhão, declara-se bissexual, tem atração por mais de um gênero ou sexo binário.
A pesquisa mostra ainda que 1,1% da população, o que equivale a 1,7 milhão de pessoas, disse não saber responder à questão e 2,3%, ou 3,6 milhões, recusaram-se a responder. Uma minoria, 0,1%, ou 100 mil, disse se identificar com outras orientações. Segundo o IBGE, quando perguntadas qual, a maioria respondeu se identificar como pansexual – pessoa cujo gênero e sexo não são fatores determinantes na atração; ou assexual – pessoa que não tem atração sexual. (Fonte: Agência Brasil)
Saiba mais dados aqui
Estatísticas da Violência
Segundo o Atlas da Violência, “em 2022, 8.028 pessoas dissidentes sexuais e de gênero foram vítimas de violência no Brasil, um aumento de 39,4% em relação a 2021, quando foram registrados 5.759 casos. Analisando a série histórica desde 2014, nota-se que os casos cresceram ano a ano, à exceção de 2020, primeiro ano da pandemia de Covid-19, quando os serviços presenciais caíram consideravelmente. O salto entre 2021 e 2022, no entanto, é o segundo maior da série, acendendo um alerta para o aumento da violência contra essa população.
Em termos de orientação sexual, 72,5% (5.826 pessoas) das vítimas eram homossexuais e 27,4% (2.202) eram bissexuais. A maior parte das vítimas são mulheres: 67,1%, quase o dobro do número de homens (32,7%). O perfil racial das pessoas LGBTQIAPN+ vítimas de violências é, em sua maioria (55,6%), de pessoas negras; outros 39,2% são brancos, 1,1% são amarelos e 0,7% são indígenas.
Dentre as pessoas homossexuais vítimas de violência, 63,7% concentram-se na faixa etária de 15 a 34 anos, sobretudo dos 20 aos 29 anos. Pessoas de 40 a 49 anos são 11,6% das vítimas, conforme apontado no Gráfico 7.2. As pessoas bissexuais vítimas de violência são mais jovens, com a maioria concentrada na faixa etária de 15 a 29 anos (65,2%). Quando comparadas às notificações de violência de pessoas heterossexuais, nota-se que a faixa etária com maior representação de pessoas LGBTQIAPN+ é aquela entre 15 e 29 anos (são 7% do total de notificações; a título de comparação, em pessoas acima de 70 anos, o percentual de homossexuais e bissexuais cai para 1%).
No que se refere à identidade de gênero, considerando travestis e homens e mulheres trans, foram 4.170 vítimas de violência em 2022, uma alta de 34,4% em relação a 2021, quando 3.103 pessoas trans e travestis foram vítimas de violência registrada pelo Sinan (Gráfico 7.3).
Confira o Atlas da Violência Aqui
Comunidade LGBTQIA+ no mercado de trabalho
A inclusão das pessoas LGBTQIAPN+ no mercado de trabalho é outro problema enfrentado por esta população. Uma pesquisa realizada pela Center for Talent Innovation, na qual foi constatado que 33% das empresas existentes no Brasil não contratariam pessoas LGBTQIAPN+ para cargos de chefia, e 41% dos funcionários LGBTQIAPN+ afirmam já terem sofrido algum tipo de discriminação em razão da sua orientação sexual ou identidade de gênero no ambiente de trabalho.
Mas quais são os desafios encontrados por essas pessoas no mercado de trabalho? A exclusão, o preconceito e violação dos direitos também são refletidos no mercado de trabalho.
Mesmo com o aumento da conscientização social, muitas pessoas LGBTQIAPN+ ainda enfrentam a discriminação por orientação sexual e identidade de gênero, inclusive no mercado de trabalho.
Em uma pesquisa realizada pela empresa de consultoria Santo Caos, foi constatado que 61% dos funcionários LGBTQIAPN+ no Brasil escolhem esconder de colegas e gestores a sua orientação sexual por receio de represálias e possíveis demissões.
Já a Associação Nacional de Travestis e Transsexuais – Antra aponta que 90% desta população está na prostituição.
Essa exclusão ocorre desde o período escolar e, por isso, existe uma grande dificuldade da população LGBTQIAPN+ percorrer um caminho de educação de qualidade. Os resultados são evidentes e refletem em uma má formação profissional e, consequentemente, na falta de oportunidade de empregos, principalmente, de emprego formal.
Em matéria divulgada pela Catho, um site brasileiro de classificados de empregos, fundado em 1977, “a discriminação é ainda maior entre pessoas trans e gays denominados como os ‘afeminados’, aqueles de muitos ‘trejeitos’, mesmo quando eles possuem as qualificações necessárias, sofrem discriminação e não são contratados”.
Ainda existe a questão de que ao serem contratadas, essas pessoas precisam seguir normas das empresas. “É frequente que sejam obrigados a seguir normas sociais, ou seja, são instruídos a não falar ou a se vestir de maneira que oculte a sua identidade de gênero e sexualidade, provocando um desconforto tão grande, que na maioria dos casos pela pressão sofrida, não aguentam e desistem da vaga”.
Selma Light, mulher transexual e Assessora de Políticas Públicas para Pessoas LGBTQIA+ de Florianópolis, afirma que o primeiro desafio das pessoas LGBTQIAPN+ no mercado o preconceito.
“A pior violência que a gente passa é silenciosa. É um olhar diferente, é um sorriso que se fecha, é uma porta que se fecha. Você chega ali na hora e estava tudo certo, mas porque você ser quem você é a porta está fechada. Então são muitas situações. Que aparentemente parecem simples, mas são de muita dor”, ressalta Selma.
Selma alerta ainda que toda a comunidade LGBTQIAPN+ sofre com essa exclusão, mas que para as pessoas transexuais a questão é ainda pior. O primeiro desafio é a questão do nome retificado. “Se a pessoa tem o nome retificado, ela tem um pouco melhor o acesso. Porque ela chega com a aparência e documento mulher ou homem transexual. Então vai ser um pouco mais tranquilo. Agora quando a pessoa chega com a aparência feminina e o nome masculino é barrado na hora”.
Selma destaca que uma simples regra interna na empresa mudaria essa questão. Uma regra para mudar o nome da pessoa no crachá. São questões pontuais que barram a empregabilidade.