Dia Mundial da Luta contra a Aids: é preciso combater o preconceito e a discriminação no ambiente de trabalho
Por: Camila Bordinha
Seguindo com os 21 Dias de Ativismo, o SINPAF lembra que hoje, 1º de dezembro, é o Dia Mundial de Luta Contra a Aids. Essa é uma data para refletirmos sobre os desafios que as pessoas que possuem o HIV ainda enfrentam contra o preconceito e a discriminação. Apesar de grandes progressos na medicina, que transformaram a Aids em uma condição tratável, essas pessoas ainda enfrentam barreiras significativas em vários aspectos de suas vidas, especialmente no ambiente de trabalho.
Segundo dados do Ministério da Saúde, o Brasil registrou queda de 25,5% no coeficiente de mortalidade por aids em 2022. Porém, estima-se que, atualmente, um milhão de pessoas vivam com HIV no Brasil. Desse total, 650 mil são do sexo masculino e 350 mil do sexo feminino.
Por outro lado, o Relatório de Monitoramento Clínico do HIV, aponta que as mulheres apresentam piores desfechos em todas as etapas do cuidado com a doença. Enquanto 92% dos homens estão diagnosticados, apenas 86% das mulheres possuem diagnóstico; 82% dos homens recebem tratamento antirretroviral, mas 79% das mulheres estão em tratamento; e 96% dos homens estão com a carga viral suprimida – quando o risco de transmitir o vírus é igual a zero – mas o número fica em 94% entre as mulheres.
Esses resultados também são impulsionados pelo estigma e discriminação relacionados ao HIV, que ameaçam direitos fundamentais no trabalho e prejudicam as oportunidades de obter um emprego decente e sustentável, de acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT). O Repertório de Recomendações e Práticas sobre o HIV/Aids e o Mundo do Trabalho (2010), do escritório da organização no Brasil, diz que o HIV/Aids deve ser tratado como qualquer outra doença grave no local de trabalho. “Isso é necessário não só porque afeta a força de trabalho, mas também porque o local de trabalho, sendo parte da comunidade local, tem papel a desempenhar na grande luta para conter a disseminação e os efeitos da epidemia.”
ACABAR COM OS ESTIGMAS
O estigma sobre o HIV/Aids pode se manifestar de várias formas, como comentários depreciativos, exclusão social, diminuição de oportunidades de crescimento e até demissões injustas. A ideia equivocada de que o HIV é transmissível de maneira casual ainda alimenta o medo e o afastamento de colegas de trabalho, o que agrava a solidão e o sofrimento emocional daqueles que vivem com o vírus.
Por isso é tão importante disseminar informações massivas sobre a forma ou não de contágio. O vírus não pode ser contraído por meio do contato normal do dia a dia, como beijos, abraços, apertos de mão ou compartilhamento de objetos, comida, água ou banheiros. O HIV somente é transmitido quando o vírus, que está presente no sangue, sêmen ou fluidos vaginais de uma pessoa vivendo com HIV que não tem supressão viral (ou seja, carga viral a níveis indetectáveis) entra na corrente sanguínea de outra pessoa. Ou seja, é transmitido pelo sexo, pelo compartilhamento de agulhas contaminadas e também de mãe para filho durante a gravidez, o parto ou a amamentação.
COMBATER O PRECONCEITO
O preconceito no ambiente profissional pode ter efeitos devastadores, não apenas para a autoestima e a saúde mental, mas também para a carreira dessas pessoas. O medo de revelar a condição, muitas vezes, leva ao isolamento e à ocultação de informações essenciais, impedindo que elas recebam o suporte necessário para conciliar o tratamento com suas atividades diárias.
Um relatório global da Unaids [Em inglês], lançado em 26 de novembro, reforça que a defesa dos direitos humanos é essencial para acabar com a Aids no mundo. O Brasil, inclusive, lidera o compromisso do G20 para acabar com a Aids até 2023.
Para isso, é fundamental que as empresas, principalmente a públicas e estatais, adotem uma postura inclusiva e educativa. Promover treinamentos sobre o HIV e a Aids, garantir que políticas de privacidade sejam respeitadas e incentivar um ambiente de respeito à diversidade são ações cruciais para que o local de trabalho se torne mais seguro e acolhedor. Além disso, políticas de saúde e bem-estar que ofereçam suporte psicológico e médico são essenciais para garantir que as trabalhadoras e os trabalhadores possam lidar com a doença sem o peso da discriminação.
A luta contra a Aids é, portanto, uma luta também contra o preconceito. Precisamos transformar o 1º de dezembro em um momento de reflexão, mas também de ação. Combatendo os estigmas, podemos garantir que as pessoas vivendo com HIV ou Aids se sintam mais apoiadas, respeitadas e com oportunidades iguais para viver plenamente, tanto no trabalho quanto na sociedade como um todo.