Embrapa busca saída fácil por meio da terceirização, mas SINPAF não vai desistir da luta
Por: Camila Bordinha
Esta terça-feira (16/4) foi o primeiro dia da jornada de mobilizações, promovida pelo SINPAF contra a terceirização na Embrapa. Com a participação de dirigentes e de trabalhadoras e trabalhadores da base de todas as regiões do Brasil, o sindicato promoveu um ato na Sede da empresa, em Brasília-DF, que incluiu café da manhã com panfletagem, exposição de faixas e discursos em carro de som.
O ponto alto das manifestações ocorreu durante um cortejo fúnebre, que caminhou pelas dependências externas da empresa, com um caixão que simbolizava a morte da pesquisa agropecuária brasileira. No momento, ocorria um evento que tinha como público autoridades como o senador Nelsinho Trad e o ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar do Brasil, Paulo Teixeira.
Em seguida, uma comissão de representantes do sindicato seguiu ao encontro da Diretoria Executiva da Embrapa, para a qual foi entregue um documento com as pautas de reivindicações da categoria para barrar a terceirização na empresa. Leia aqui.
Após o presidente do SINPAF, Marcus Vinicius Sidoruk Vidal, e o diretor de Assuntos Jurídicos e Previdenciários, Adilson F. Mota, lerem e apresentarem os pontos do documento, a diretoria executiva da empresa explicitou “argumentos fracos e inconsistentes,” de acordo com a comissão que participou da reunião.
A diretora de Pessoas, Serviços e Finanças da Embrapa, Selma Beltrão, disse que foram feitos diversos estudos na empresa para identificar as funções necessárias em cada unidade. De acordo com ela, algumas atribuições da função de assistente foram redistribuídas para a função de técnicos.
Ainda conforme a diretora de pessoas, essa foi a estratégia encontrada para reestabelecer as vagas de assistentes no concurso público que está para ser publicado em abril. A função tinha sido eliminada pela gestão anterior e pelo Conselho Administrativo da empresa (Consad). “O conselho aprovou a manutenção da carreira [de assistentes] com algumas atribuições que não cabiam mais, sendo incluídas no cargo de técnico, que possuem maior conhecimento para novas ferramentas,” informou a gestora.
“O que nós fizemos como gestores foi garantir o compromisso assumido, não só com o SINPAF, mas com a sociedade, de que faríamos concurso e que iríamos manter as quatro carreiras (pesquisador, analista, técnico e assistente), assim como as vagas e os recursos para salários. O governo deu apenas a garantia, mediante o valor que será incrementado R$ 3,1 milhões, para a contratação de 1.051 empregados,” afirmou Selma Beltrão.
O diretor-executivo de Governança e Gestão, Alderi Araújo, alegou que a Embrapa “tem que espelhar o que deve estar ocorrendo nas áreas de produção agropecuária, pequenas ou grandes, que estão sendo mecanizadas.”
“Obviamente, quando os assistentes têm maior conhecimento para operar equipamentos, vai ser exigido um número menor de empregados. Com a tecnologia, não vamos ter o número de empregados que tivemos no passado. Os assistentes continuarão tendo papel importante em atividades que exigem grau de especialização e trabalho que preserve o conhecimento, que não se dissemine antes de ser disponibilizado para a própria Embrapa,” declarou Alderi Araújo.
Já o diretor de Pesquisa e Inovação, Clenio Nailto Pillon, reconheceu o esvaziamento das equipes de apoio, principalmente das funções de assistente, com a perda de 4 mil empregados e a falta de concurso público durante 14 anos.
“Evidentemente que essa não era a nossa expectativa, mas foi um grande ganho a possibilidade de contratar pessoal que não estava previsto antes. O ideal, dado a perda de empregados, seria a possibilidade de repor por meio de concurso público, o que no momento não é possível. Mas queremos, juntos ao SINPAF, retomar o compromisso mútuo, valorizar papel de atuação das carreiras, para que possam nos ajudar na agenda de Pesquisa, Ciência e Inovação,” assegurou Pillon.
“Houve a necessidade de que as unidades pudessem ter alternativas de contratação por serviços indiretos. Foi um caminho do meio que acordamos para não penalizar a empresa,” completou o diretor de Pesquisa e Inovação.
O diretor de relações Institucionais do SINPAF, Zeca Magalhães, que é assistente da Embrapa, considerou equivocada a posição da diretoria da Embrapa quando “desqualificam a capacidade técnica dos assistentes.”
“A empresa deveria promover um programa de valorização dos assistentes e até criar uma universidade corporativa para isso, em busca de aprendizados inerentes à função, e não acabar com as atribuições da forma que acham mais prática, com a terceirização. Eu, como assistente, me considero muito capaz de aprender e evoluir. Muitos talvez não tenham avançado nos estudos por falta de oportunidade e não capacidade. A Embrapa precisa valorizar o capital humano que tem,” concluiu Zeca Magalhães.
O presidente do SINPAF, Marcus Vinicius Sidoruk Vidal, finalizou a reunião afirmando que “a luta do SINPAF se manterá contra a terceirização, buscando alternativas corretas para a reposição dos trabalhadores e trabalhadoras, em que o caminho não seja a terceirização, por meio do diálogo também com o Governo Federal e o Congresso Nacional.”
Também participaram da reunião, a presidenta da Seção Sindical Embrapa Sede, Mirane Costa; o presidente da Seção Sindical Goiânia, Waltterlenne Englen; o presidente da Seção Sindical Cerrados, Lucas Edney Santana; e o presidente da Seção Sindical Pantanal, Igor Schabib Péres.