O debate sobre o “Combate ao Assédio Moral na Embrapa”, realizado em 20 de outubro, na TV SINPAF e no Facebook da Diretoria Nacional do SINPAF, já está disponível para quem não pôde assistir ao vivo. No evento, os especialistas no assunto, convidados pelo SINPAF, deram uma verdadeira aula sobre o que é assédio moral, como ele se caracteriza, quais as formas de denunciar e quais ações têm sido realizadas pela categoria para acabar com o problema dentro da empresa.
O professor da UMESP, Bruno Chapadeiro Ribeiro, conceituou o assédio, mostrou as implicações da prática na saúde física e mental de trabalhadoras e trabalhadores e apresentou sugestões de condutas coletivas para impedir o assédio moral organizacional.
Entre os indicadores de risco para prática do assédio, o especialista apontou, por exemplo, a “cultura do ambiente de trabalho que aprova comportamento de assédio moral ou não o reconhece como problema, o que contribui para pensar que os atos de violência são aceitos ou naturalizados”, entre outros. “Muitas vezes o assédio moral é usado como instrumento de gestão”, afirmou.
Já a procuradora do Ministério Público do Trabalho (MPT) de São Paulo, Adriane Reis de Araújo, descreveu o assédio moral no ambiente de trabalho como “uma forma de violência, que desrespeita um direito fundamental de outra pessoa, como o direito à liberdade, à igualdade, ao trabalho remunerado, ao repouso” e que “normalmente se expressa como resultado por um dano, que pode ser patrimonial, psicológico, físico, etc.”
Entre outras explanações, a procuradora explicou que o assédio moral ocorre quando o ambiente de trabalho está permeável a esse tipo de violência. “Acontece porque o Brasil é um país que tem muita violência, que decorre da nossa formação, pela colonização, com mão de obra escravizada e que, mesmo depois do término da escravidão, no qual o Brasil foi o último a abolir essa prática, não houve uma reparação às pessoas que foram extremamente exploradas, o que permite que essa violência seja reproduzida até os nossos dias”.
DENÚNCIAS NA CPPCAM
Muito aguardada pela categoria, a apresentação do representante da Comissão Permanente de Prevenção e Combate ao Assédio Moral (CPPCAM) da Embrapa, Cherre Sade Bezerra da Silva, explicou o histórico de formação do coletivo e os membros que a compõem, assim como esclareceu a função e os limites de atuação do comissão.
O membro da CPPCAM também mostrou dados sobre os casos de assédio nos quais a comissão atuou desde a sua formação, em 2019. De acordo com Cherre Sade, na Embrapa, 82% das vítimas formalizam a agressão e 17% não o fazem por medo de retaliação, afirmam que não querem confusão e que estão muito fragilizadas, querem esquecer o fato ou dizem não querer perder tempo.
Das denúncias apuradas pela comissão, entre 2019 e 2021, 82% foram de assédio moral e 18% de assédio sexual. Dessas, 65% foram recebidas de analistas e pesquisadores, 13% de técnicos e outros assistentes e 26% de outras funções, ou até mesmo de estagiários e terceirizados. Os casos ocorreram em 13 unidades, espalhadas em todas as regiões brasileiras, bem como na Sede da Embrapa.
As denúncias de assédio, seja moral ou sexual, que ocorrerem na Embrapa, podem ser feitas pelo e-mail Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo., pela ouvidoria da empresa, via postal, entregue diretamente a membro da CPPCAM ou mesmo escrita ou reduzida a termo.
TODOS CONTRA O ASSÉDIO
O diretor de Ciência e Tecnologia do SINPAF e pesquisador da Embrapa, Mário Urchei, explica que o evento foi organizado com o recorte voltado a pesquisadoras(es) e analistas, pois o assédio moral junto a esse segmento tem se intensificado sobremaneira nesse último período. “Esse processo, que já é histórico, sistêmico e organizacional, tem aumentado demasiadamente, castrando a criatividade, a liberdade de expressão, de manifestação, gerando inclusive um ambiente extremamente hostil para a inovação, para a pesquisa e para o avanço da ciência”, explicou o diretor. Algo absolutamente inaceitável e que precisamos combater.
Urchei afirma que “a intensificação do assédio moral organizacional na Embrapa tem relação com a postura do atual governo federal e da gestão da empresa que é verticalizada, autoritária, atrasada, impositiva, castradora e que não leva em consideração as opiniões de trabalhadores e trabalhadoras, não dialoga.”
Para o pesquisador da Embrapa e presidente da Seção Sindical Amapá, Jorge Orellana Segóvia, a discussão proposta no evento do SINPAF, junto com a Diretoria Nacional e Seções Sindicais, é da maior relevância. “A Comissão que foi criada para receber as denúncias e apurar os casos de assédio é importante, mas tem seus limites, pois levanta informações, relata, encaminha, porém, não tem poder de decisão. Por isso as Seções Sindicais têm que contribuir, buscando suas assessorias jurídicas para pressionar os chefes de forma incisiva. Tudo tem que ser muito bem estruturado para que a perseguição acabe”, afirmou Segóvia.
Para a pesquisadora da Embrapa Algodão, Márcia Barreto de Medeiros Nóbrega, a discussão é importante pois é preciso internalizar na empresa o que é assédio moral. De acordo com a trabalhadora, existe uma cultura que culpabiliza a vítima, principalmente as mulheres, quando passam por essa situação, em que diversas pessoas responsabilizam a empregada por “não saber se impor”.
“Cada trabalhador ou trabalhadora, seja de empresa pública ou privada, pode contribuir, também, tanto para combater quanto para prevenir a prática, informando-se melhor sobre o problema e buscando ter mais empatia pelas pessoas que passam pela situação. Precisamos conversar mais sobre o assunto e trazer para a rotina do nosso dia-a-dia”, afirmou Márcia.
PLAYLISTS
Outros assuntos que foram discutidos pelo SINPAF em lives ao longo de 2020 e 2021, como Teletrabalho por exemplo, também podem ser assistidos nas playlists da TV SINPAF.
Ciclo do Teletrabalho:
Live 1 - Direitos trabalhistas e aspectos jurídicos e Saúde física e psicológica das(os) trabalhadoras(es). Clique aqui para assistir
Live 2 - “Dimensões Sociais do Teletrabalho na Pandemia” e “O trabalho invadiu a casa: teletrabalho e trabalho doméstico.” Clique aqui para assistir
Diálogos Virtuais:
Clique aqui para assistir:
- A conjuntura econômica em 2021, com Mariel Lopes, economista e supervisora técnica do Dieese no Distrito Federal.
- Reinventar e Resistir: Os desafios do Sindicalismo Contemporâneo, ministrado pelo sociólogo e professor da Universidade Federal de Campina Grande-PB, Mário Ladosky.
- A Mulher no Século XXI e a Estrutura do Patriarcado, com a advogada Giselle Mathias, especialista em Direito Público e em Didática do Ensino, membra da #partidA, da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD) e colunista do site Brasil 247.